INSENSATO PERSONAGEM

Neste exato momento vou interpretar, agora eu não sou eu. Preciso não ser eu pelo menos por alguns minutos. Sou uma personagem, que isso fique bem claro. Vou escolher o tipo de personagem que sou, como se estivesse em um filme, deixa pensar...
Vou ser alguém que, em primeiro lugar, seja feliz. Então, vou sorrir.
Alguém que acredite que possa alcançar objetivos. Então, vou até começar a sonhar.
Alguém que ame a humanidade. Então, vou tratar com carinho até quem não conheço.
Alguém que não se preocupa à toa. Então, vou esquecer que tenho problemas.
Perfeito! Se não fosse insensato.
Como posso ser feliz, com tanta coisa ruim acontecendo no mundo?
Como acreditar em alcançar objetivos, se meus objetivos não são "realistas"?
Como amar a humanidade, com tanta gente ruim fazendo parte dela?
Como ficar despreocupada, se tenho tanto a resolver?
Isso é coisa para gente irresponsável! Uma insensatez!
Contudo, se não for assim, não escreverei nada que seja do gosto dos que irão ler. A vida que levo não tem nada de interessante. É uma vida comum, de pessoa comum, responsável e discreta. Só terei pensamentos comuns, só escreverei coisas comuns...
Quem quer ler isso?
Portanto a única opção é, enquanto escrevo, ser insensata. Para que possa refletir o que tenho de melhor, sem medo, sem preconceito. Para que possa ser feliz, acreditar em mim, amar a humanidade e não me pré-ocupar com problemas.
Só assim acreditarei que o que me inspira é algo real, e não fantasia. Pois apenas um personagem despojado do peso que carrego como ser humano discreto e sensato é que tem esse poder.
Daí, enquanto junto essas letras através do teclado, sou esse personagem.
E quem sabe um dia esse personagem não se transforme em mim mesma? Seria insensatez, mas... SAGRADA INSENSATEZ.